ICP 1728

A visão da Sarça Ardente

A pintura ilustra dois momentos sequenciais relacionados com a vocação de Moisés e a sua visão da sarça ardente (Ex 3, 1-5). Com efeito, estando Moisés a apascentar os rebanhos de Jetro, seu sogro, a certo momento apercebeu-se de uma sarça que ardia no fogo, mas não se consumia. Estranhando o fenómeno e querendo saber por que motivo a sarça se mantinha intacta, aproximou-se. Foi nesse momento que, do meio do fogo, ouviu a voz do Senhor dizendo para não se aproximar mais, para tirar as sandálias dos pés pois o lugar onde se encontrava era uma terra santa. A pintura ilustra a narrativa de forma fiel apresentando, em primeiro plano, Moisés, com a cabeça descoberta e o cajado no chão e retirando o calçado dos pés, enquanto olha em direção à sarça. Num segundo momento, em plano secundário, Moisés, já se encontra descalço e diante do Anjo do Senhor com quem dialoga. Contudo, nesta segunda representação, constata-se que o cajado de Moisés já não é um bastão sólido como sucede no primeiro plano, mas sim uma forma ondulante, maleável e com a extremidade inferior em forma de cabeça de serpente. Este facto fica a dever-se ao sinal que Deus dá a Moisés pedindo-lhe para lançar ao chão a sua vara a qual se transformou numa cobra. Depois, Deus ordenou a Moisés que a segurasse pela cauda. Moisés assim fez e a serpente transformou-se, de novo, numa vara (Gn 4, 1-4). Nos dois momentos distintos Moisés está acompanhado pelo rebanho, sendo os planos posteriores compostos por uma paisagem, de caráter realista, assinalada por um céu carregado de nuvens, e ainda, árvores e montanhas afetadas pela perspectiva aérea. Destaca-se no canto superior esquerdo a sarça ardendo em fortes labaredas no centro da qual sobressai o Anjo do Senhor que faz um gesto de envio, sugerindo a missão de libertação do povo hebreu para a qual Deus tinha escolhido Moisés. Os gestos bastante acentuados de Moisés indicam as dificuldades apresentadas ao Senhor após ter conhecimento da dimensão da missão que lhe estava a ser confiada. Detrás do anjo posiciona-se um círculo resplandecente configurado por diversos querubins em torno de carateres hebraicos, numa pintura já muito desgastada, que ocupam a parte central do círculo, parecendo configurar a palavra hebraica ?Elohim?. Todos estes elementos pretendem reforçar a forte presença e manifestação de Deus (Teofania) neste episódio da vocação de Moisés.